quinta-feira, 6 de abril de 2006

Artigo


ESCÁRNIO
por Ralph J. Hofmann


(Zombaria, mofa, desprezo - Grande Dicionário Larousse Cultural da Língua Portuguesa. “O Povo não tem pão. Pois que coma brioches” - Marie Antoinette – Rainha da França)

Madame Guadagnin, para uma deputada de partido de esquerda, parece estar muito à vontade no campo da Rainha da França, posteriormente decapitada por Mme. La Guillotine.

Fosse apenas a sua dança, sua “Guadagnera”, poderíamos até dizer que ela teria alguma amizade especial pelo absolvido da noite. Contudo, essa médica, essa mulher que um dia perante uma platéia repleta, em companhia de seus colegas, fez um Juramento Hipocrático, decididamente uma pessoa da elite brasileira, em termos de acesso à formação moral de um nível de consciência, transformou a política em algo semelhante à atividade de torcida de futebol. Nós contra eles. A um torcedor não interessa se houve mão ajeitando a bola para chutar a gol. Não interessam as entradas desleais. Não interessa se a vitória foi no tapetão. Interessa ganhar.

Soubemos na semana que passou que ela votou pela absolvição de todos quanto foram julgados. Que atrasou propositadamente todos os processos. Nunca avaliou o conteúdo das evidências apresentadas. Nunca admitiu avaliar a moralidade ou não de seus companheiros de partido.

Se uma médica, a princípio uma pessoa com uma porção de humanismo na sua formação é capaz de comportar-se assim quando atinge um alto posto nessa república, um posto que lhe permitiria zelar pela ética no seu partido consegue abandonar todo e qualquer sonho de serviço ao povo, o que podemos esperar da classe política como um todo?

Madame Gudagnin pediu desculpas ao povo brasileiro pelo seu arroubo de emoção, tomou as dores do colega julgado. Hoje fica claro que jamais, enquanto o voto for secreto, qualquer culpado do PT e dos partidos de aluguel será cassado. Madame Guadagnin se controlará em público da próxima vez. Dançará nalgum churrasco da Granja do Torto, ou em uma sala reservada de restaurante em companhia dos amigos, como se fossem vencedores do Oscar celebrando os louros merecidos.

O pior é que estamos vivendo um filme de baixa categoria sobre monstros e vampiros. E um dos vampiros é uma senhora de meia idade com ar angelical e sorriso de escárnio.

Para meu espanto noto que as pessoas estão com saudades dos militares. Toleravam bastante bem as piadas inócuas às suas custas, e seus líderes principais tinham dignidade. E mais do que isto, seu amor à pátria era indiscutível.

Nenhum comentário: