sábado, 9 de setembro de 2006

Artigo

O QUE IMPORTA É A MUSIQUINHA
por Ramiro Severo


Os entendidos em política diziam que essa seria uma campanha pesada, de muitas agressões e pouco espaço para o que realmente importava: apresentação de propostas. Eu acho que o fundamental em uma campanha é o jingle. Uma musiquinha bacana, que emocione e dê vontade de sair na rua fazendo bandeiraço.

Vamos combinar: é impossível que no horário eleitoral gratuito se desenvolva um debate sério sobre os rumos do país. Todos os candidatos dizem a mesma coisa. E não é por incompetência, ou por serem todos iguais. É humanamente impossível tratar assuntos altamente complexos e conquistar o eleitor ao mesmo tempo.

Geração de empregos, por exemplo. Há duas opções: a primeira é aquele blábláblá de que iremos investir nos setores que mais geram empregos, iremos desburocratizar a vida das pequenas empresas que são responsáveis por x% dos empregos do Brasil, vamos valorizar o agronegócio para manter o homem rural no campo, etc, etc, etc. Pra completar, eles enchem de estatísticas inúteis, como o número de empregos extintos durante os últimos quatro anos (ou o número de empregos criados nesse mesmo período), geralmente precedidas do bordão “os números não mentem”.

A segunda é apresentar teorias de crescimento econômico extremamente densas, baseadas em modelos teóricos e evidências empíricas, desenvolvidas por economistas consagrados, recheadas de equações, gráficos e respaldadas por grandes juristas. E se isso for feito em menos de 15 programas, não dará nem para citar a bibliografia para os eleitores conferirem as demonstrações matemáticas.

O mesmo vale para saúde, educação, segurança e qualquer tema relevante. Se tu, eleitor, queres fazer uma análise minimamente séria do teu candidato, tens que pesquisar o que ele já fez quando ocupou algum cargo. Avalie o partido e as pessoas que o cercam. Ninguém manda sozinho, todos fazem parte de um projeto. Procurar saber mais sobre esse projeto é a única maneira de estimar o que será feito se esta pessoa for eleita.

Aliás, eu acho que boa parte do crescimento do PT no Rio Grande do Sul se justifica por aquele jingle “Pega Bandeira/vem pra rua/vem participar...”.

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