quinta-feira, 20 de abril de 2006

Artigo


A próxima vítima
DANUZA LEÃO


Nunca vou esquecer do dia, pouco antes do segundo turno das eleições de 2002, em que fui ao Canecão, no Rio, onde haveria um encontro do candidato do PT com a classe artística (eu não sou artista, mas fui). Saímos, eu e todos que estavam lá, emocionados. Quanta simpatia, quanta esperança num Brasil melhor, mais solidário, mais fraterno. Tenho amigas que até outro dia ainda se lamentavam de não ter estado lá. Lula estava nos seus grandes dias (não percebi, no momento, que devia ser porque estava entre artistas famosos, gente que ele adora); e deu um show de bola. Mas agora, quando se vê, a cada dia que passa, que era tudo falsidade, mentira, a gente fica mal.

Um professor Luizinho até que se absorve fácil -afinal, num olhar se presume do que é capaz. José Dirceu nunca inspirou muita confiança, e havia os sub sub coadjuvantes, dos quais não lembramos nem do nome nem da cara.

Gushiken passava aquele clima de oriental, zen, que, não sei bem por que, sempre inspira respeito, e Palocci era a imagem do que havia de sério; todos podiam errar -e erravam-, mas, enquanto existisse Palocci , estávamos todos salvos, certos de que ele não deixaria que nada de grave acontecesse. A serenidade, a calma, a placidez de Palocci, no meio de tanta gente histérica, nos dava segurança. Mas ele mentiu, e várias vezes. Mentiu até o último minuto, até saber que o presidente da Caixa Econômica havia confirmado, na Polícia Federal, ter entregue o extrato do caseiro em suas mãos, para então resolver "se afastar".

Quando é que vamos aprender que simpatia, facilidade de improvisar belos discursos, carisma, sorrisos com covinhas ou cara de seriedade não têm nada a ver, nem para governar um país nem para nada?

Bem dizia Brizola, como já contei um dia nesta coluna: "esse governo vai ser pior que uma ditadura stalinista". O que tentaram fazer com o pobre do caseiro ultrapassa qualquer ******** -ah, se eu pudesse escrever a palavra- que se possa fazer a um ser humano, e quando ele é pobre e humilde, a coisa fica muito mais grave.

Eu vou votar. Gosto de votar, para mim é a melhor coisa da vida. Mas vou tomar mais cuidado do que nunca na escolha dos meus candidatos. Vou prestar muito mais atenção nas palavras do que na simpatia, vou prestar atenção nos olhos de cada um deles. Vai dar um certo trabalho, mas espero que a imprensa ajude botando a fotinho deles e falando um pouco do que fizeram no passado, como se comportaram, se roubaram, se mataram, se foram processados, já que a Justiça Eleitoral não exige a folha corrida de qualquer candidato a qualquer coisa, como uma empresa exige para admitir um contínuo. Não, não e não ao voto nulo.

Regina Duarte, quando disse que tinha medo de Lula, atirou no que viu e acertou no que não viu; o medo dela era outro, e ninguém poderia imaginar que fosse dar no que deu. Só para lembrar: já não está na hora de ir fundo e saber quem matou Celso Daniel? O assunto vai e volta, mais vai do que volta, pessoas envolvidas no caso foram assassinadas, e nada. Por que será?

E me vem à cabeça o hino criado por Duda Mendonça -outro que achincalhou a CPI dizendo "lamento, mas não vou responder", até mesmo quando perguntaram o nome de sua mulher; quem votou em Lula deve ter cantado, balançando a cabeça, "Agora é Lula, agora é Lu-lu-la-lá" -lembra?

Talvez seja a hora do hino voltar a ser cantado, só que não mais pelos eleitores do PT, mas pela oposição, enquanto se pensa: será que agora é Lula? Não, Lula não: ele nunca soube de nada. Mas quem não gostar de política pode cantar os versos de Tom Jobim, "é a lama, é a lama".

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