sábado, 14 de julho de 2007

Artigo


AH, ESSAS NOSSAS ELITES!
Percival Puggina
Zero Hora, 08/07/2007

O Congresso Nacional custa caro? Caríssimo! Em números absolutos, entre uma dúzia de países europeus e americanos estudados pela ONG Transparência Brasil, nosso parlamento é o segundo que mais consome recursos em números absolutos e o primeiro da lista quando se relaciona a despesa total com o PIB/per capita. O valor a que se chega quando se calcula o custo direto de cada gabinete na Câmara dos Deputados corresponde ao dobro do que despende seu equivalente no parlamento britânico.

Nasci num tempo em que o país era abalado por escândalos. Pequenos negócios construídos à margem do poder eram descritos como “mar de lama” e levavam a suicídios e deposições. Hoje, nos estabilizamos na lama e não há escândalo que abale a nação. A quem responsabilizar por isso?

Será ele, o Congresso Nacional, o grande vilão no contexto de nossas instituições? Não existe relação entre os congressistas que temos e o sistema político que adotamos? Quando as pessoas lúcidas do país ansiavam por uma urgente reforma política, a base do governo quase nos aplicou o golpe do voto em lista fechada. A reforma política virou reforminha eleitoral. A reforminha eleitoral se converteu numa bolha de sabão. E – pof! – vai se desfazer em coisa alguma. Por culpa de quem?

Por culpa das elites nacionais, ou seja, dos muitos e indispensáveis grupos de influência intelectual, cultural, sindical, econômica e mesmo religiosa que constituem as lideranças não institucionais da sociedade. Tudo permanecerá como está enquanto tais segmentos não perceberem que cometem, por sua omissão ante o tema da Reforma Política, crime de conivência com o maior de nossos males. Esperam o quê? Que congressistas votem contra o modelo que os elegeu? Derrubem o sistema que transforma seus votos em valiosa moeda de troca? Mudem a regra de um jogo em que sempre ganham? Acabem com a representação política dos grupos de interesse quando é desses interesses que saem dinheiro e votos? Estabeleçam um sistema de governo que os desaloje da doce irresponsabilidade de suas ações e omissões perante o bem comum? Ora, por favor! A denúncia do sistema político só foi proferida enquanto serviu para exonerar de responsabilidades pessoais as duas pontas do mensalão.

A esférica ignorância de alguns, os interesses de muitos em relação a um modelo que lhes faculta comprar parlamentares do mesmo modo que o governo faz, e o corporativismo de outros tantos são, hoje, os principais causadores do desastre institucional brasileiro. Não, não é só ao governo que convém o sistema político vigente.

Se me fosse dado o poder de demitir alguém nesta quadra da nossa história eu demitiria a grande elite nacional. Ela, tanto quanto o Congresso, só se mobiliza por interesses corporativos. Ela não mexeu uma palha pela Reforma Política porque o modelo que temos lhe serve muito bem. Ela reclama do apagão aéreo, mas não ergue a voz contra o apagão moral do país. Ela silencia sobre o mar de lama que inundou o governo federal e financiou Lula nos dois últimos pleitos. Ela acusa o Congresso de gastar demais, mas finge não saber que o Gabinete da Presidência da República, sozinho, gasta uma terça parte do que custa todo o Poder Legislativo federal. Ela fala do Congresso porque o Congresso é a “Geni” mais desprotegida. Falar mal do Congresso dá, a custo zero, uma idéia de nobre repulsa à ignomínia. Mas como convêm a essa elite um governo assim e um Congresso assim!

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