domingo, 14 de janeiro de 2007

Artigo

Não escaparão...
Luiz Carlos Prates

Que formidável engano é uma pessoa pensar que qualquer dos seus atos errados na vida poderá passar sem seqüelas, sem conseqüências por dentro ou por fora do corpo. Já explico, mas para explicar vou fazer uso de uma frase de um bom sujeito, Shakespeare. A frase do bardo de que vou fazer uso é esta:

- Alguns vencem por seus crimes, outros são derrotados por suas virtudes.

Shakespeare terá razão se pensar nas pessoas em relação com outras e isso numa sociedade onde o ter vale mais do que o ser. Nesse tipo de sociedade, como esta em que hoje vivemos, de fato, um bandido pode "vencer", e uma pessoa honrada perder. Mas veja, a vitória do patife será uma vitória social, isto é, diante dos outros, nunca dentro de si mesmo. Já o virtuoso, "derrotado", sofrerá da derrota social mas terá consigo a vitória da paz interior, pessoal.

E se alguém imaginar que um crime não sabido pelos outros em nada o prejudicará erra. Erra porque não se dará conta de que o tribunal interno que todos temos dentro de nós, por patife que seja a pessoa, baterá o martelo da condenação. Ainda que a pessoa se "absolva" conscientemente, o tribunal interno, que funciona nos porões do inconsciente, vai determinar que a punição seja executada por sofrimentos de causas "acidentais" de origem não-consciente.

Dito de outro modo, se o patife, o que vence com ilicitudes, não for descoberto

por ninguém, será punido por si mesmo. A consciência moral é terrível. O sujeito raramente desconfia de que suas quedas, acidentes e doenças do corpo físico resultam, mais das vezes, de sentimentos de culpa por maldades realizadas pelo caráter torvo.

Já o virtuoso derrotado nunca será um derrotado. Poderá perder disputas sociais, mas jamais terá uma apoquentação no corpo físico que resulte do mal-estar de uma ação injusta. Há os que se matam, há quem desenvolva doença degenerativa grave, há quem sucumba de moléstias de curas difíceis ou impossíveis, as criações da consciência moral são extensas e implacáveis aos iníquos.

Ninguém vence por seus crimes, como ninguém perde por suas virtudes. Shakespeare não errou quando falou de vitórias dos bandidos e de derrotas dos virtuosos, só esqueceu de dizer que as vitórias são de aparência, fugazes. Dentro do peito, o terrível dragão da consciência ou o fogo do inferno do inconsciente fazem arder em vida o safado, e levam ao paraíso da paz o virtuoso "derrotado".

Graças a Deus que é assim. Os canalhas - esses todos que andam aí, acusados mas impunes - não perdem por esperar. Se não arderem no fogo da lei, arderão no fogo da consciência, e essa costuma, por patife que seja o patife, cobrar a conta no corpo físico. Não escaparão.

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