segunda-feira, 26 de março de 2007

Tim-tim, saúde, paz, amor, felicidade e viva a vida!


Cronista do cotidiano, agitador cultural e eterno sonhador, Horácio Braun morreu sábado, aos 57 anos
Jornal de Santa Catarina



Blumenau acordou mais triste no domingo. O jornalista Horácio Braun morreu às 20h15min de sábado, em decorrência de uma diverticulite e um câncer pulmonar no Hospital Santa Catarina, onde estava internado desde fevereiro deste ano. Nascido em Blumenau há 57 anos, ele deixa a esposa Isabella e os filhos Luiz Gabriel, 10, e Horácio Braun Jr., 35, fruto do primeiro casamento, com Abigair, além do neto Thales, com 26 dias. O próprio colunista pediu para que não fosse realizado velório: queria que esse momento não fosse celebrado com tristeza, mas com alegria. O corpo foi cremado no final da manhã de ontem, em Curitiba (PR). Antes de morrer, Horácio disse que desejava que suas cinzas fossem jogadas no Rio Itajaí-Açu, símbolo maior da cidade onde nasceu e viveu.

Filho do Bairro da Velha, em Blumenau, o colunista do Santa que comemoraria 58 anos no próximo dia 13 de junho já dava sinais durante a infância do caráter descontraído e alegre que marcou toda sua vida. Era ainda adolescente quando começou a trabalhar na imprensa blumenauense. Na época, andava pelas ruas da cidade com uma lambreta para fazer as coberturas jornalísticas.

Trabalhou como cinegrafista, redator, radialista e cronista. Embora tenha sido um dos calouros a ter a cabeça raspada ao ser aprovado na Furb, não concluiu o Ensino Superior. Nem foi preciso.

Atuou nos principais veículos de comunicação da cidade. No Santa, contribuiu durante 31 anos, escrevendo colunas e dando dicas de relacionamento nos cadernos de verão e Oktoberzeitung. Criou tiras em que era o principal personagem, com a sugestiva companhia de uma aranha, uma perereca, uma cigarra ou um caracol.

Para quem sempre foi reconhecido por amar demais, tanto a vida quanto os amigos e a família, não poderia haver dia mais propício para o seu nascimento. Filho de Jorge e Laura Braun, foi casado por duas vezes e teve cinco irmãos. Horácio Antônio Braun, era esse seu nome completo, nasceu no dia de Santo Antônio.

- Rir e amar são as melhores coisas da vida - resumiu.

Além das piadas e mensagens registradas nas páginas do jornal, Horácio Braun ainda participou de uma lista de iniciativas pioneiras na cidade. Foi ele quem inovou a técnica de percussão em Blumenau. Junto com o amigo de longa data Ingo Penz, criou a Bierfahrrad, a primeira bicicleta da cerveja da região do Vale, e a Choppmotorrad, a motocicleta que distribui chope e alegria em outubro. Além disso, foi um dos idealizadores do Stammtisch de Blumenau.

Horácio montou e desmontou bandas. Tocou com os grupos Jaz em Paz e o Amanhece Bom Jesus. Foi autor, entre outros livros, do Kit Show do Bom Humor e do Amor, uma caixa de surpresas lançada em 2000, com piadas, ilustrações e o calendário do sexo com 365 posições diferentes. Um kit para quem gosta de rir e amar, as melhores coisas da vida para ele.

Não há como negar também o lado boêmio deste que foi um dos maiores cronistas do cotidiano blumenauense. Entre os inúmeros bares que já teve, como o Botequim da Vila e o Bistrô 69 (hoje Botequim Colonial 69), um deles deixou muita saudade entre os candangos e políticos freqüentadores do Anexo 51, em Brasília. Em outro boteco, o Fala Brasil, o guru da página 2 do Santa conseguiu trazer grandes nomes da música brasileira para Blumenau, como Fafá de Belém e Renato Borghetti, sendo que com este último, inclusive, chegou a tocar algumas vezes.

No livro Pequeno Dicionário de Humorismo, escrito por Newton Gomes, Horácio dividiu espaço nas páginas da publicação com nomes como Millôr Fernandes, Jô Soares e Bussunda. No verbete, uma síntese elucida sua criatividade: Horácio subverte o senso comum inventando soluções nunca antes imaginadas.

Foi ele também quem resolveu fazer uma festa de Réveillon para 500 pessoas em 31 de julho 1988. Sempre irreverente, o humorista resolveu acabar o ano antes por considerá-lo muito ruim. Ganhou destaque no jornal americano The New York Times e capa do Jornal O Estado de S. Paulo pela façanha.

Uma passagem por Paris, outra pelo Caribe. Um esconderijo improvisado e regado a vodca e Hi-fi na casa de um amigo ou ainda uma tocata, por engano, num velório. Quantas histórias e aventuras podem ser encontradas no mundo mágico do gênio do humor catarinense Horácio Braun?

Irrequieto, nem mesmo as internações no hospital conseguiram derrubar seu bom humor e impedir seu desejo de continuar as colunas no jornal nos últimos tempos. Horácio preparava mais dois livros, o Dicionário do Blumenauês e uma coletânea com as melhores mensagens diárias publicadas no Santa.

Uma boa gargalhada, uma batida de batuque ou um copinho de cerveja com os amigos. Simples atos, mas de grandes significados na vida. Para Horácio, que viveu intensamente, seu brinde predileto: tim-tim, saúde, paz, amor, felicidade e viva a vida!

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