domingo, 22 de julho de 2007

Artigo

TEMPORÃO E A RESSUREIÇÃO
Percival Puggina


O objetivo deste artigo não é o de refutar mais um argumento dos abortistas pela simples razão de que não se pode refutar algo que não existe. Os abortistas não dispõem de qualquer argumento. O que eles têm são motivos para justificar o que defendem e isso é inegável que existe. Existem tantos motivos para fazer um aborto quanto para qualquer outro crime. Aliás, boa parte da receita de muitos advogados provém, exatamente, do arsenal de motivos que podem alinhar para justificar delitos praticados por seus clientes.

O que torna o tema do aborto fascinante, sob o ponto de vista retórico, são as teses sustentadas por seus defensores. Exatamente por não terem fundamento algum, submetê-las ao crivo da razão se constitui num exercício muito interessante. Agora, por exemplo, o ministro da Saúde juntou-se aos que sustentam que o embrião humano não tem cérebro e que, por conseqüência, ele corresponde a uma fase que pode ser comparada à da morte cerebral.

Qual o objetivo dessa exótica afirmação? Viabilizar o uso de embriões e justificar o aborto nas primeiras semanas de gravidez a partir da noção de que se trata de coisa morta, semelhante ao corpo humano com diagnóstico de morte cerebral. Cai, no entanto, um silêncio de claustro sobre como essa “coisa” morta se desenvolve durante 12 semanas até que os cientistas lhe apontem a inesperada ocorrência de um cérebro. Essa preocupação em negar a condição humana e viva do embrião e do feto corresponde a uma tentativa ridícula de tornar aceitável algo que, não sendo assim, seria moralmente intolerável. Eis o que se depreende da necessidade de construir a esdrúxula tese: se a vida do embrião e dos feto for vida humana, aborto é crime.

Basta, então, evidenciar o absurdo científico do que foi afirmado para enterrar no próprio argumento toda a tentativa de justificar moralmente o abortamento voluntário. Com efeito, a teoria inova o ciclo vital com uma espécie de ressurreição dos embriões e dos fetos como condição para que possa existir vida humana. Ora, se os embriões fossem células mortas o interesse científico por eles seria quase igual a zero. Bem ao contrário do que faz supor a idéia do ministro, embriões são tão vivos e tão vitais que dão origem a um indivíduo completo, sem outra interferência além da que ocorre por absorção dos mesmos nutrientes que os transformam em fetos, os fetos em bebês e os bebês num eventual titular da pasta da Saúde.

O embrião corresponde à mais notável, densa, compacta, misteriosa e fascinante fase do desenvolvimento do ser humano. É a primeira etapa do longo processo auto-evolutivo e auto-construtivo que só alcançará seu apogeu na idade adulta, sem prejuízo da sua natureza em qualquer dos estágios anteriores ou posteriores, da concepção até a morte.

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