quinta-feira, 2 de março de 2006

Artigo


NÃO SE JUSTIFICA NEM SE EXPLICA
Percival Puggina - Jornal do Comércio

Nos últimos anos percorri cerca de 10 mil quilômetros de carro em uma dúzia de países europeus. Estou bem inteirado, portanto, sobre os preços dos combustíveis naquele continente. Voltei de lá, pela última vez, em julho de 2005, mas a internet me socorre para as atualizações.

Embora haja diferenças de preços entre os países e entre os postos num mesmo país, pode-se planejar uma viagem rodoviária considerando um gasto médio de 1,20 euros por litro de combustível, à exceção da Inglaterra onde tudo é mais caro. A diferença entre a gasolina e o diesel é mínima, coisa de uns poucos centavos, e a tributação incidente sempre passa dos 70%.

Até onde estou informado, o ocidente da Europa só produz óleo no Mar do Norte. Portanto, a maior parte dos países não extrai do próprio do subsolo uma ampola de combustível. E os preços são conforme estou expondo. Diante desse dado, impõem-se perguntar: Como se justificam os preços dos derivados de petróleos no Brasil?

Faça as contas e verá que, em Porto Alegre, pagamos o equivalente a um euro por litro de gasolina, ou seja, vinte por cento menos do que paga um alemão, ou um suíço, ou um italiano, cidadãos de países que não produzem petróleo e cujo poder de compra é bem superior ao nosso.

“Petróleo é uma commodity”, responderão alguns. No entanto, parece que tal condição não vale para o país que inventou essa palavra, os Estados Unidos, onde custa a metade, nem para o Japão, onde vale 40% menos, nem para a Arábia Saudita, maior produtora da referida commodity, onde o preço fica em 20% do que se pratica no Brasil. Não, não é por aí.

Considerando que nosso país é praticamente auto-suficiente e se tornou, inclusive, exportador de gasolina, será preciso encontrar outras razões para o preço que pagamos para um produto tão significativo para a composição dos orçamentos familiares e para a formação dos custos em nosso País. Essa da commodity não explica nem justifica, principalmente quando sabemos que embora o barril de petróleo esteja valendo cerca de 60 dólares, seu custo de produção na Arábia Saudita é de dois dólares e, no Brasil oito dólares. Tem gato nessa tuba.

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