sábado, 4 de agosto de 2007


VEM CONFUSÃO POR AÍ
Percival Puggina


Tarso Genro e Nelson Jobim no ministério? Não vai dar certo. Ambos criaram-se e estudaram em Santa Maria, freqüentaram o mesmo curso de Direito, têm a mesma idade, foram deputados federais e ministros de Estado por mais de uma vez. Sentaram-se na cadeira de ministro da Justiça. Nelson Jobim foi ministro do STF e Tarso Genro esteve ansioso por ser. Quando a Associação dos Juízes Federais reagiu à possível indicação de Tarso, alegando uma excessiva partidarização daquela corte, o deputado Henrique Fontana, na liderança do PT na Câmara, reagiu: “Qual a diferença entre Nelson Jobim (então presidente do STF e anteriormente filiado ao PMDB) e Tarso Genro (que já fora presidente do PT)? Nenhuma.”, concluiu Fontana.

Nenhuma? É o que veremos nos próximos meses, porque haverá muita diferença para acertar. Qualquer lista de presidenciáveis para 2010, formada pelo lado governista, deve incluir esses dois gaúchos. Ambos sonham com dormir, um dia, na suíte presidencial do Aerolula.

Lula não sabe a confusão que vem por aí. Aliás, já veio. Jobim deixou claro que exercerá o poder com o mesmo vigor com que presidiu o STF. É um homem voluntarioso, de ações rápidas e profunda vocação governista. Deve aos tucanos o que de melhor alcançou na vida pública. Fernando Henrique fez dele ministro da Justiça e o indicou para a alta corte constitucional. Entretanto, o dia 1º de janeiro de 2003 foi marcado por dois atos exóticos e significativos: a posse de Lula e a mudança de lado do ministro Jobim. A bananeira tucana já dera seus cachos. Tornou-se defensor do novo governo e, assim, realizou a proeza de ser ministro de Fernando Henrique e de Lula. Um amigo meu, quando soube que o ex-ministro presidente do STF seria o novo ministro da defesa do governo, surpreendeu-se: “Novo ministro da ‘defesa do governo’? E quando ele deixou de ser?”.

Jobim ganhou carta branca, assinou o termo de posse, fez frases fortes, armou a guilhotina, apontou a porta de saída para quem não o obedecer, caiu no gosto dos inconformados com o apagão aéreo, assentou a mira para 2010. E Tarso Genro acordou na sombra.

Era preciso reagir. Mas reagir como? Por anomalias que só o diabo explica, a aviação civil, em nosso país, está afeta ao ministério da Defesa. É coisa de Jobim. A pasta da Justiça cuida de outros assuntos. Mas a disputa política, como o coração, tem razões que a razão desconhece. E Tarso Genro, com quase um ano de atraso sobre o apagão aéreo, depois que os saguões dos aeroportos se consolidaram como câmaras de tortura, levou 24 horas para descobrir que ele pode, através da Secretaria Nacional de Direito Econômico, situada no organograma de seu ministério, agir contra as empresas de aviação que estejam desrespeitando os direitos dos consumidores. Na sombra projetada pelo concorrente, o ministro da Justiça vislumbrou a possibilidade de haver direitos dos consumidores sendo infringidos nos aeroportos. E que ele tem algo a ver com isso.

O governo Lula, fica mais uma vez provado, só se move por interesses ligados à disputa ou à preservação do poder.

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