segunda-feira, 6 de março de 2006

Editorial - FSP

Cada vez mais estranho
A decisão de familiares de Celso Daniel -prefeito petista de Santo André assassinado em 2002- de deixar o país agrega nova dose de estranheza ao caso. O irmão mais novo de Celso, Bruno, já embarcou para fora do Brasil com sua mulher e os três filhos. Os filhos do mais velho, João Francisco, devem seguir os passos da família do tio.

Os Daniel alegam que o irmão foi morto por ter se contraposto a um esquema de corrupção que achacava empresas de ônibus da cidade. O Ministério Público e nova investigação da Polícia Civil colheram indícios que contradizem fortemente a conclusão do primeiro inquérito policial sobre o caso, o qual atestava que Daniel fora vítima de crime comum.

Depósitos de companhias de transporte urbano em favor de Sérgio Gomes da Silva -o assessor que conduzia o veículo com Celso Daniel na noite em que este foi seqüestrado- confirmaram o que dissera um dos empresários que denunciou o esquema em Santo André. Duas testemunhas do assalto ao veículo em que estavam o prefeito e Gomes da Silva afirmaram que este não se comportava propriamente como a segunda vítima da ação -conforme alega-, mas como comparsa dos bandidos.

Seis pessoas que tiveram relação com o caso foram mortas ao longo da investigação, entre elas um foragido da Justiça que, antes de morrer, disse ter trabalhado com Gomes da Silva em Santo André. E um envelope com denúncias contra esse assessor de Celso Daniel foi achado no apartamento do prefeito. Fora enviado por outro auxiliar de Celso Daniel, Gilberto Carvalho, hoje chefe-de-gabinete da Presidência. Carvalho -que confirma o envio do dossiê, dizendo que apenas repassou informações anônimas que recebera- é acusado por João Francisco e Bruno Daniel de lhes ter relatado que agiu como receptor de dinheiro do esquema de corrupção, tendo-o repassado ao então presidente do PT, José Dirceu.

Agora, as ameaças de morte contra os irmãos Daniel -que desde o início das apurações endossam a versão de crime político- os levam a retirar as famílias do Brasil. O fato, aliado ao que já foi revelado até aqui, faz aumentar a verossimilhança do que dizem Bruno e João Francisco.

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