sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

Artigo


Onde estão as idéias?
Paulo Leite, de Washington


Tenho procurado acompanhar – com as dificuldades naturais de quem está longe – o noticiário sobre a sucessão presidencial no Brasil. Quem se dá ao trabalho de ler meus artigos deve lembrar que nunca comprei a idéia de que Lula estava acabado, e pelo que vejo, o presidente é – infelizmente – um candidato a ser temido.

A característica mais marcante da reeleição, num regime de eleições livres, é a nítida vantagem que o ocupante de um cargo eletivo leva no confronto com seus possíveis desafiantes. Ainda que o detentor de um mandato esteja enfrentando problemas de popularidade, tem todo um arsenal a seu dispor para virar o jogo. Isso é especialmente verdadeiro no caso do presidente.

Uma rápida passada de olhos pelo noticiário mostra que Lula está se aproveitando dessa vantagem com a destreza do político escolado que é. De um encontro com o arroz-de-festa Bono ao lançamento de obras públicas que de repente começam a jorrar, passando pelo aumento dos gastos “sociais”, o presidente está fazendo de tudo para que o eleitorado esqueça todo aquele noticiário sobre corrupção.

Nos discursos de Lula, nenhuma surpresa, apenas os auto-elogios de sempre, os costumeiros ataques às “elites” e uma louvação desenfreada às “conquistas” de sua administração. Nenhuma idéia nova, nem ao menos uma promessa que não tenha sido feita antes.

Ouvir Lula é ter a impressão de que vivemos num mundo perfeito, onde o Brasil é o mais respeitado dos países, sem falar no que mais cresce. É um milagre que nossas fronteiras não estejam cheias de imigrantes ilegais esperando escurecer para entrar no paraíso terrestre.

A verdade, no entanto, é que – pelo menos por enquanto – a tática do presidente parece estar dando certo. A julgar pelas pesquisas de opinião pública, Lula está em posição infinitamente superior à que se poderia esperar seguindo qualquer critério lógico (lógica não sendo, claro, nosso forte como brasileiros).

O que chama a atenção não é a posição de Lula nas pesquisas ou as táticas que o petista vem empregando para garantir sua reeleição. O que surpreende é a total falta de idéias da oposição.

O noticiário é dominado há tempos pela disputa interna no PSDB, uma briga na qual o que menos parece importar são as idéias e programas dos candidatos a candidato. Serra parece disposto a ser candidato porque “chegou a sua vez” (os republicanos, por aqui, usaram o mesmo critério em 1996 para escolher Bob Dole como candidato – e deu no que deu).

Tirando irrelevantes promessas de um Brasil que vai “crescer pra chuchu” por parte do governador paulista Geraldo Alckmin, tenho tido incrível dificuldade para encontrar qualquer menção àquilo que os pré-candidatos pretendem fazer caso cheguem à presidência.

Pode ser que os candidatos a candidato do PSDB estejam ocupados demais com seus problemas dentro do partido para lançar idéias e programas. Seria compreensível. Mas e os outros partidos? E os outros pré-candidatos (o único que andou falando alguma coisa foi o eterno candidato Maluf, mas estou falando de candidatos de verdade, e de respeito), por onde andam?

A eleição presidencial não está tão longe assim. Quando menos esperemos, vamos estar nos preparando para ir às urnas. Já era tempo de termos alguma idéia do que pensam os possíveis candidatos sobre temas importantes para o país.

Alguma idéia sobre como diminuir a carga tributária? Algum plano para simplificar a burocracia que inibe o aparecimento de novos empreendedores, ou para acabar com o excesso de regulamentação nos mais diferentes aspectos de nossas vidas? Algum projeto para fazer o Brasil voltar a crescer ao menos no mesmo ritmo de nossos vizinhos?

Sem idéias novas, vai ser difícil mandar Lula de volta pra casa.

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