sexta-feira, 24 de fevereiro de 2006

Só de sacanagem

O texto abaixo é de autoria da atriz e poeta Elisa Lucinda, lido pela cantora Ana Carolina durante os seus shows, um desabafo contra este desgoverno:

Meu coração está aos pulos! - Quantas vezes minha esperança será posta à prova? Por quantas provas terá ela que passar?/Tudo isso que está aí no ar,/ malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu dinheiro,/ que reservo duramente para educar os meninos mais pobres que eu,/ para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais,/ esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais. Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?/ Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?/É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz,/ mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso nariz./Meu coração está no escuro, a luz é simples,/ regada ao conselho simples de meu pai,/ minha mãe, minha avó e dos justos que os precederam:/Não roubarás, Devolva o lápis do coleguinha,/ Esse apontador não é seu, minha filhinha./Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que escutar./Até habeas corpus preventivo, /coisa da qual nunca tinha ouvido falar/ e sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará./Pois bem, se mexeram comigo,/com a velha e fiel fé do meu povo sofrido,/então agora eu vou sacanear:/mais honesta ainda vou ficar./Só de sacanagem!/Dirão: Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba/e eu vou dizer: Não importa, será esse o meu carnaval,/ vou confiar mais e outra vez./ Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos,/ vamos pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês./Com o tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau./Dirão: É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem que veio de Portugal./Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal./Eu repito, ouviram? IMORTAL!/Sei que não dá para mudar o começo/mas, se a gente quiser,/vai dar para mudar o final!

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