terça-feira, 26 de setembro de 2006

Artigo

BEBETO, É FISIOLÓGICO!
Adriana Vandoni (*)


Estava lendo um artigo do jornalista Bebeto Amador sobre seu descontentamento com o povo brasileiro e suas preferências eleitorais. Eu também tenho essa mesma inquietação e indignação, mas acho que descobri o motivo e por isso jogo para o Judiciário a responsabilidade com os rumos da democracia brasileira.

Na semana passada, encontrei com um velho amigo que estava fora do Brasil há muitos anos. Médico, doutor por uma universidade conceituada da Inglaterra, esse meu amigo vive hoje as agruras de se ter estudo em um país que privilegia a imbecilidade. Tentou voltar a morar em Cuiabá, mas percebeu que seria inviável. Fixou-se em São Paulo onde faz parte de um grupo de pesquisa da USP. É sobre essa pesquisa que quero falar.

O meu amigo e seu grupo estão estudando a forma de raciocínio e o comportamento do cérebro em relação ao grau de escolaridade. Ele me dizia que quanto menos tempo de estudo, mais concreto é o pensar. Não existe o pensamento subjetivo, não existe o longo prazo. Apenas o imediato, o acordar, tomar café, sair, voltar, comer e dormir. Coisas mecânicas, entende?

Já a pessoa com mais tempo de estudo aprende a raciocinar de forma mais ampla e percebe a subjetividade dos fatos.

Ao escutar essa explicação, que em um primeiro momento pode até parecer um tema árido, meu amigo soltou uma frase que me deu um estalo: Adriana, quanto menos estudo a pessoa tem, mais fisiológica é sua forma de pensar.

Perguntei a ele qual a extensão da pesquisa, se existia, por exemplo, uma relação entre os pesquisados e suas preferências políticas.

- Já sei onde você está querendo chegar, Adriana. A resposta é sim. O pesquisado sem estudo e que pensa fisiologicamente é, em sua maioria, potencial eleitor de Lula.
- Então quer dizer que Lula pode ser reeleito por uma questão fisiológica, assim como comer, dormir e ir ao banheiro?

- É, não nesses termos né! Mas é mais ou menos isso. Se você disser que programas como o bolsa esmola são nocivos no longo prazo, o fisiológico dirá: Ah doutor, mas o que importa é hoje.

Então Bebeto, isso explica a nossa agonia. É tudo fisiológico. Por isso insisto na responsabilidade do Judiciário brasileiro. Veja bem, siga meu raciocínio e entenda porque digo que nossa única esperança é o Judiciário.

Temos o Executivo incompetente, suspeito, e conivente com crimes. Foi o executivo que comprou parlamentares, que liberou verbas para compras superfaturadas, enfim, que cometeu tantos crimes quanto foi possível. Do executivo não podemos esperar nada a não ser atos que beneficiem seus interesses e proteja sua gangue.

Temos um Legislativo comprometido moralmente. A eles cabe a formulação ou reforma das Leis. Mas eles estão comprometidos com seus próprios crimes. Deles não podemos esperar a formulação de Leis que coíbam ou que sejam mais severas com posturas amorais e corruptas.

Sobrou o Judiciário, que não formula as Leis, que precisa seguir a Constituição Federal que foi escrita pelo Legislativo, mas eles podem mudar a interpretação para beneficiar a moralidade e dignidade no Brasil.

Agora vamos ao perfil do eleitorado. Do total de eleitores do Brasil, apenas 3% concluiu um curso superior. Esses, teoricamente, são capazes de pensar no longo prazo, mas não decidem uma eleição.

O grosso do eleitorado brasileiro é formado por 24% de analfabetos ou que apenas lêem e escrevem e 35% que não concluíram o primeiro grau. Isto quer dizer que desses 58% de eleitores brasileiros, grande parte tende a fazer suas escolhas de forma fisiológica, com objetivos mais imediatistas.

Esses podem eleger um sanguessuga porque a ambulância eles vêem, mesmo que os hospitais sejam cascas vazias, como de fato são. Mas a ambulância está lá, eles até conhecem o motorista. Eles podem votar em Lula, porque Lula disse que o rico não quer que o pobre estude, sem atinarem para o fato de que o estudo vem através de políticas públicas que o governo não adota porque desvia o recurso da educação para a compra de pessoas.

É fisiológico, assim como comer, dormir e ir ao banheiro!
Portanto, a única Instituição que ainda pode nos salvar da vergonha, da falta de caráter generalizada e institucionalizada e impedir que sejamos para sempre um monturo dominado por corruptos, é o Judiciário.

(*) Adriana Vandoni - é economista, especialista em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas/RJ. Articulista do Jornal A Gazeta.
Blog: http://argumentoeprosa.blogspot.com

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