sexta-feira, 20 de janeiro de 2006

Artigo


VOU INAUGURAR MEU BANHEIRO
por Adriana Vandoni Curvo, economista

A coisa está preta para o governo federal, já não tem discurso nem obras para apresentar para as próximas eleições. Na área econômica os méritos não passam de continuar um modelo que o próprio criador, Fernando Henrique, já reconhece como ultrapassado. Além disso, Lula não é mais novidade e todos sabem que o fator novidade tem um peso considerável em eleições. Se tem alguém que pode se declarar como novidade é a Heloísa Helena e o PMDBista Germano Rigotto. Não que este seja tão admirado assim no seu estado, mas mesmo assim é uma novidade. Garotinho, coitado, já foi engolido pela cúpula do PMDB.

Qual seria então o discurso de Lula? Dizer que ocorreria uma instabilidade econômica no país caso não ocorra sua improvável reeleição seria absurdo. Um segundo governo Lula teria uma bancada no Congresso ainda menor do que a que esta aí? Um novo governo seu daria mais instabilidade ao país.

Qual o discurso então, meu Deus? Ética?, nem pensar. O PT nadou de braçadas na lama da corrupção.

As medidas de alcance social, que tanto apregoam, também são engana-trouxas, já que nenhuma delas teve o objetivo de estimular a melhoria de condição social dos mais humildes. Foram puramente medidas eleitoreiras, do mesmo porte das utilizadas há décadas pelos coronéis do interior do país. O programa social do PT para diminuição das desigualdades sociais não passou de mero distribuidor de dinheiro, ou esmola, não de renda como sistematicamente garganteiam. Renda, segundo o dicionário, significa quantia recebida, por pessoa ou entidade, em troca de trabalho ou de serviço prestado. Se essa distribuição de dinheiro viesse com a contrapartida de obrigar os filhos a estudar, ou que se inscrevessem em cursos técnicos, aí teríamos uma perspectiva de melhoria da qualidade de vida. Isso não foi exigido porque levaria tempo e não é interessante eleitoralmente. Típico pensamento de coronéis.

Outro discurso que o PT aniquilou foi a tal geração de emprego. Céus, como eles são farsantes! Acho contam com a máxima de Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda de Hitler, que dizia que falar uma mentira muitas vezes torna-a uma verdade. Essa é a esperança petista.

Já tinha escrito sobre isso no ano passado, mas quem sou eu para competir com a máquina de propaganda do governo. O governo está mentindo quando diz que gerou 3,7 milhões de empregos. Querem ver? Sempre dizem isso acompanhado de um sutil: "empregos formais OU com carteira assinada". Isso, gente, significa que nem todos esses empregos foram gerados neste governo. Significa que muitos desses empregos já existiam, e agora apenas tornaram-se formais, ou passaram a ser com carteira assinada. Espertinhos, hein? Desse total de 3,7 milhões que eles berram aos quatro ventos, 45% ou 1,6 milhões, já existiam. Apenas receberam registro nos últimos três anos, segundo o Professor José Pastore, reconhecida autoridade em economia do trabalho.

Mas exigir as assinaturas das carteiras é um mérito desse governo!, diriam alguns. Sem dúvida, mas não da forma como isso está sendo realizado. Segundo a ONG Childhope Brasil, destinada a promover os direitos relacionados à educação, trabalho e saúde de crianças e adolescentes em situação de pobreza, no início do governo Lula "técnicos que atuavam apenas contra trabalho infantil passaram automaticamente a vistoriar empresas para conseguir cumprir as metas do grupo", isto é, fazer o registro das carteiras de trabalho, para transformar os trabalhadores informais em formais.

Fica evidente que o governo preteriu o combate ao trabalho infantil objetivando somente a maquiagem de uma promessa de geração de empregos, feita durante a campanha de 2002.

É, não há mais discurso. Lula chegou ao fundo do poço. A única obra de porte, que foi inclusive anunciada em um programa político do partido, foi a transposição do rio São Francisco. Obra virtual, diga-se, feita apenas no computador, especialidade de Duda Mendonça.

Depois de todos estes absurdos vemos o governo ser obrigado a se submeter ao vexame de ter que sair pelo país inaugurando "tapa-buracos". Infame mediocridade administrativa.

Por isso tenho uma sugestão a Lula. Terminei a reforma do meu banheiro e, humildemente, faço um convite para que vossa excelência venha aqui inaugurá-lo. Como fator de convencimento, vou servir-lhe um whiskizinho, mas, se preferir, arrumo uma garrafa de pinga levanta–defunto. Olha!, levanta-defunto, não seria uma saída?

Adriana Vandoni é economista, especialista em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas / RJ. Articulista do Jornal A Gazeta Cuiabá / MT.

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