Artigo

PARA ESQUECER DUDA
por José Negreiros, no Blog do Noblat

Se fizéssemos um campeonato para escolher a notícia mais repugnante do ano, a reportagem da revista Veja da semana atrasada, sobre a indústria do caixa dois de Duda Mendonça (nº 2, 18/01), ganharia disparado. Acredito na Justiça, mas quem termina de ler o texto sai com a sensação de que é caso de mandar para a cadeia todo mundo envolvido na história. Como o presidente Lula, para quem o marqueteiro confessou ter alugado sua tecnologia de dourar a pílula, ficaria de fora dessa sujeira é um mistério.

O que mais choca é o nível de detalhes, a construção de rede de corrupção, a precisão das informações, como se os jornalistas tivessem conseguido a notícia ao estilo Big Brother, espiando a verdade. A reação de Duda foi publicar dois anúncios lacrimosos nos grandes jornais. O resto do país – ministério da Justiça, a CPI etc – fez um constrangedor silêncio. Como se nada tivesse acontecido.

Diante de uma história cabeluda dessas, símbolo da falta de zelo com que Lula e o PT disputam eleições e governam, é difícil fugir de uma crise de decepção com o Brasil. Somos levados a concordar com quem acha que o Haiti é aqui. É impossível acreditar que num país como esse, algo funcione além do sindicato do crime.

E, no entanto, estamos no Brasil da auto-suficiência do petróleo e da tecnologia flex, duas invenções espetaculares, daquelas que a gente costuma saudar com a frase símbolo de nosso pessimismo: “No Brasil, não acontece uma coisa assim”. A engenhosidade não se limita apenas à pesquisa pioneira e insistência no álcool combustível. Inclui decisão política, estratégia industrial e ação de mercado.

O presidente militar Ernesto Geisel, o mais bem preparado dos ditadores do século passado, criou o Programa do Álcool, conferiu-lhe prioridade máxima e passou a gastar muito com a substituição de energia. A idéia sofreu os ataques de praxe. Passaram-se trinta anos e hoje ela se constitui no maior sucesso da moderna história brasileira. Só um motivo de orgulho assim é capaz de ofuscar a vergonha de ser contemporâneo de Duda e seus marquetados. José

Negreiros é jornalista. E-mail: josenegreiros@terra.com.br