quinta-feira, 13 de abril de 2006

Artigo


ÉTICA REVOLUCIONÁRIA
Percival Puggina


Os vândalos que atacaram os laboratórios da Aracruz sustentaram a legitimidade do feito com base na idéia de que as leis que vedam atos dessa natureza foram concebidas para servir ao “grande capital” e não merecem respeito. Um advogado do MST afirmou: “não aceitamos juízo de valor, seja do executivo, seja do legislativo, seja do judiciário, seja da mídia”. Te mete! Por outro lado, observe os episódios que têm vindo à tona nos últimos meses e a reação a eles por parte da maioria das lideranças petistas. Enquanto tudo estava no fundo, a concordância era geral. Vindo à tona, tem merecido mercês reservadas à ética revolucionária.

A deputada Ângela Guadagnin, por exemplo, sustentou a tese de que você, leitor, escandalizou-se com sua dança apenas porque ela era gorda, feia e não pintava os cabelos. Mas aquele episódio sublinhou, como poucos, a diferença entre a ética pública e a revolucionária, para a qual tudo que serve à causa merece louvor e o único delito inaceitável é a traição ao partido.

Foi na batida desse samba que serviram à causa os dólares de Cuba e os arreglos com a mais articulada seleção de negocistas já escalada no Congresso Nacional. Nessa mesma batucada estão os esquemas de certas prefeituras com lixo e transportes urbanos, o valerioduto, os gastos em publicidade, as manobras do Gushiken, as generosidades do Okamoto, o silêncio do Duda, os passeios das malas e cuecas com dinheiro, o Waldomiro Diniz, o José Dirceu, o Rogério Buratti, o Marcos Valério, o José Mentor, o Silvinho Pereira, o Delúbio Soares, o Costa Neto, o Pedro Correa, o Roberto Jefferson, o Roberto Teixeira, o Banco Rural, o BMG, o MST, a Via Campesina, a UNE, a grana do FAT. Ufa! E deveriam ter servido à mesma causa a criminosa invasão das contas do caseiro Francenildo e as ações expeditas do Coaf e da Polícia Federal acusando-o de lavagem de dinheiro. Crime de colarinho branco, por 38 mil reais! Eu mereço.

Agora, experimente debater essa pauta com um petista. Terá uma aula de misericórdia. Quando faltarem os argumentos, mudarão o foco e começarão a falar do FHC, do Bush e da camada de ozônio. A ética revolucionária obriga até pessoas de bem a defender o indefensável.

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