sexta-feira, 28 de abril de 2006

Artigo


Lula é o astronauta do blablablá
Elio Gaspari

"Nosso guia" confessou que "teria coragem de ir numa nave espacial". Não disse para onde, mas uns bons milhões de brasileiros fariam fila para custear a viagem. Na noite anterior, Lula entrara em órbita, em Porto Alegre, ao revelar que "o Brasil não está longe de atingir a perfeição no tratamento de saúde". Com as mordomias que usufrui, tem médico no serviço e hospitais prontos para atendê-lo. Consertou a parte interna do nariz e tem direito a botox-delivery.

A megalomania presidencial é um delírio de ignorância embebida em leviandade. Pode-se confrontar Lula com inúmeros cenários vividos pela turma que precisa dos serviços de medicina pública. O sucateamento do hospital federal Gaffrée e Guinle, no Rio, está provocando a morte de pacientes soropositivos. A greve de dois meses da Agencia de Vigilância Sanitária compromete a entrega de medicamentos e hemoderivados importados.

Mesmo assim, talvez seja melhor lembrar o que "nosso guia" disse a respeito do "tratamento de saúde" à jornalista Denise Paraná, autora do memorável livro "Lula, Filho do Brasil". Ele contou a morte de sua primeira mulher, em 1971:

"A Lurdes tinha ficado grávida e, no sétimo mês de gravidez, ela pegou hepatite. Ninguém me tira da cabeça que ela morreu por negligência da rede hospitalar do Brasil, por problema de relaxamento médico. (...) Hoje eu tenho consciência do que um desgraçado de um pobre passa nos hospitais, passa para ser atendido, para ter uma consulta. (...) Tudo isso depende da classe: quem tem dinheiro pode tudo, quem não tem dinheiro não pode nada, não tem direitos estabelecidos. Como morreu a Lurdes, morrem milhões de pessoas por aí neste país sem ter o menor atendimento médico".

Lula disse isso em 1993, e o livro foi publicado em 2002. Ou não sabe do que fala hoje, ou serviu-se de um drama pessoal para fazer demagogia. A primeira hipótese parece ser a mais provável, mesmo sendo a mais triste para um país de 170 milhões de habitantes governados por um astronauta do blablablá.

"Nosso guia" alterna grandiosidades pessoais com lamúrias contra o caráter do Brasil, país habitado por um povo que bem ou mal o tratou bem. Dois exemplos, ambos da semana passada:

"É sempre assim que funcionam as coisas no Brasil. Estamos sempre nivelando por baixo, estamos sempre apostando na desgraça, estamos sempre apostando na miséria". "No Brasil é assim, o cara não te dá o direito de ser feliz.

"Se "nosso guia" não se sente bem no Brasil, o próximo avião para o Cazaquistão decola de Paris às 12h do próximo dia 4. A passagem (só de ida) custa US$ 580.

Nenhum comentário: