terça-feira, 15 de agosto de 2006

Artigo

A reeleição pode virar carta branca
ELIO GASPARI


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Ao contrário do que disse, "nosso guia" não afastou o pessoal da quadrilha. Todos saíram prestigiados, por ele
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O DESEMPENHO de Lula na entrevista que deu ao "Jornal Nacional" foi catastrófico. Ofendeu a inteligência da patuléia. Atravessou a linha do fizemos-o-que-todos-fazem, indo para o fizemos-tudo-certo. Eco do hino Bourbon: "Nada esquecemos, nada aprendemos". Prenúncio de uma Presidência imperial que tentará impor ao Congresso desmoralizado um programa de aparelhamento do Estado. Se o golpe pela Constituinte não for ressuscitado, vão falar em plebiscito.
Ao contrário do que disse o "nosso guia", seu governo não defendeu a moralidade afastando José Dirceu e Antonio Palocci dos ministérios. Nos dois casos, o Diário Oficial informa que eles pediram demissão. Pode-se dizer que isso é uma formalidade da etiqueta palaciana, mas Lula carpiu os ex-ministros. Chamou Palocci de "mais que irmão". A Dirceu, disse o seguinte:
"Compartilho seu sentimento de que esta decisão permitirá a você melhor defender nosso governo, nosso partido e sua própria pessoa. Como parlamentar brilhante que é -um dos líderes políticos mais importantes e respeitados da República- você poderá, na Casa do Povo Brasileiro, desfazer as infundadas acusações lançadas por aqueles que querem desconstruir nossa história e nosso projeto de mudança social".
(A Casa do Povo cassou o mandato do comissário.)
A cumplicidade de Lula com a quadrilha que o procurador-geral da República identificou no Planalto começou num ponto extremo, quando concordou que Waldomiro Diniz, subchefe da Casa Civil, deixasse o governo "a pedido".
Palocci é candidato a deputado pelo partido de Lula. Dirceu montou uma promissora empresa de consultoria. Defende o voto de lista (expediente do agrado de um pedaço do tucanato), pelo qual a choldra é chamada a decidir em cima de listas elaboradas pelas direções partidárias. Olhando-se pelo retrovisor, se em outubro próximo existisse o voto de lista, Roberto Jefferson mandaria nas preferências do PTB, Dirceu, na do PT e Eduardo Azeredo, na do PSDB.

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