sábado, 8 de abril de 2006

Artigo


Governo e PT batem recorde dos escândalos
Villas-Bôas Corrêa


O presidente-candidato Lula pode e deve acrescentar à relação dos seus recordes mundiais a indesmentível afirmação de que “nunca na história deste país” um governo reuniu o buquê de escândalos como o que ornamenta os últimos oito meses do seu mandato e enfeita a campanha para a reeleição.

Só nesta semana, muitos feitos pegaram carona na geringonça superlotada, que despenca de morro abaixo, sem o freio do decoro. As águas poluídas transbordam para as margens enlameadas do rio da corrupção e dos escândalos, com a constante e teimosa característica de que o governo e o bando do PT oficial ficam sempre do lado pior, deixando para a oposição os espaços de discutível limpeza, com o barro sujando os sapatos e a barra das calças.

Parece, certamente não é, o clima alucinado de fim de festa com largo consumo de bebidas, quando a dança acelera o ritmo e cai na alucinação do frenesi. O saracoteio da musa petista, deputada Ângela Guadagnin – que comemorou a absolvição do companheiro, deputado João Magno, acusado pelo Conselho de Ética de receber R$ 420 mil do valerioduto para as despesas miúdas de campanha – não foi entendido no seu exato significado. Na explosão de alegria, como madrinha da bateria, ela marcava o ritmo da escola. E o governo, o PT, a Câmara seguiram os requebros da esfuziante pastora.

Nas horas que emendaram a tarde com a virada da noite de quarta-feira, a Câmara misturou no mesmo cálice doce e veneno. Primeiro, a cocada revigorante da aprovação, no ato final da CPI dos Correios, do arrasador relatório do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) por 17 votos a quatro, depois de 245 dias de investigações, com as conclusões que desmoralizam as desculpas esfarrapadas do PT e confirmam que o mensalão, para a compra e aluguel de deputados, inundou as arcas petistas com os milhões das trapaças de Marcos Valério e do parceiro Delúbio Soares, operadores do esquema de desvio de dinheiro público.

E que não se confunde com a parente próxima, a caixa dois, especializada em arrecadar recursos públicos e privados para o financiamento de campanhas.

A batalha campal na CPI dos Correios, presidida com firmeza pelo senador Delcídio Amaral, do chamado PT do bem, arrancou a máscara e mostrou a cara da impostura e do desespero. A surra foi de moer os derrotados, não apenas pelas conclusões aprovadas, mas pela clara qualificação da lista dos indiciados que incluem 109 dirigentes partidários, de órgãos públicos e privados, servidores e parlamentares que enfiaram os gadanhos no saco de dinheiro sujo.

O presidente Lula escapa pela tangente: soube da existência do mensalão e do caixa dois, reclamou providências e ficou por isso mesmo.

É impossível prever os desdobramentos das denúncias diante da tendência da maioria da Câmara de absolver os parlamentares envolvidos nas roubalheiras. Como o viciado que não consegue ficar muito tempo sem cheirar o pó, horas depois do impulso de reabilitação, em emblemático ato de contrição, absolveu o seu ex-presidente, deputado João Paulo Cunha (PT-SP), por 256 votos contra 209, derrubando o pedido de cassação do mandato aprovado pelo Conselho de Ética.

Não é apenas a nova queda na desmoralização do Legislativo, mas a despudorada desforra do baixo claro, impondo-se como força majoritária na passeata das mordomias.

O melífluo deputado João Paulo Cunha, cultiva a humildade na composição do tipo do bom moço. E joga pesado nos conchavos com a turma que utiliza o mandato para abrir o cofre da Viúva e garantir os privilégios, as vantagens e mordomias que compõem um dos melhores empregos do mundo. A sua eleição para a presidência custou o rombo da verba indenizatória, hoje em R$ 15 mensais postos à disposição de senadores e deputados para o ressarcimento das despesas de fim de semana. Basta apresentar qualquer recibo que grana aparece.

Com tais credenciais, a absolvição era previsível, provável, quase certa. Apesar do peso das denúncias, esmiuçadas pelo relator Cezar Schrimer (PMDB-RS), a maioria votou com os seus interesses. E fechou os olhos às provas do recebimento de R$ 50 mil do valerioduto por intermédio de sua mulher, Márcia Milanesi, que sacou o dinheiro no Banco Rural e às mentiras de suas muitas versões.

A maioria dos deputados é grata a quem engorda as suas mordomias.

E confia que o povo esquece, não resiste a uma boa conversa, vota e garante a reeleição.

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