quinta-feira, 19 de outubro de 2006

Artigo

O MANTRA DOS MENTIROSOS
Augusto Nunes - Jornal do Brasil


A ladainha foi entoada, de novo, no primeiro debate do segundo turno. "Corrupção existiu em todos os governos", desconversou na TV Bandeirantes o presidente-candidato. "A diferença é que nós punimos". Na primeira fila da platéia, Marta Suplicy até conseguiu distender a musculatura facial aprisionada a cada três dias. Feliz, repetiu o mantra no fim do debate: "Só o nosso governo pune".

Pune coisa nenhuma, informa a vida real. As evidências são muitas e penosas. O extorsionário Waldomiro Diniz, por exemplo, não foi sequer demitido. Foi exonerado "a pedido". José Dirceu viu confiscada por Roberto Jefferson a tarja de capitão do time, mas mantém o direito de ir e vir (sempre à caça de negócios espertos). O estuprador de contas bancárias Antonio Palocci, deputado eleito, vai homiziar-se numa bancada feita de mensaleiros, vampiros e sanguessugas, todos beneficiários da mão amiga da impunidade.

O trem-pagador Paulo Okamotto ainda não sofreu a mais que recomendável quebra do sigilo bancário e fiscal, fundamental para o esclarecimento de suspeitíssimas doações à Primeira Família. Algumas o vinculam a Marcos Valério, outro que não sabe o que é dormir num catre.

Silvinho Pereira nem explicou direito que fim levou aquele Land Rover. Delúbio Soares, o modernizador do assalto a banco, gasta o tempo em churrascos com amigos no sítio em Goiás. Poderá agora melhorar a comida: despedido do PT (e em liberdade), Jorge Lorenzetti está disponível. Liberado das maracutaias de campanha, o churrasqueiro do rei saberá cuidar da qualidade da carne oferecida aos convivas.

A Polícia Federal tem colecionado operações que identificam bandidos. Mas o doutor Márcio está aí para poupar de dissabores os capturados em meio a patifarias necessárias ao desenvolvimento do partido e da nação.

A polícia prende, o governo solta. Não há na cadeia um único bandido federal. Confrontado com essa evidência, Lula deu-se mal no debate. De onde veio o dinheiro para a compra do dossiê criminoso?, quis saber três vezes Geraldo Alckmin. Três vezes Lula se esquivou. Terá de esquivar-se nos próximos debates. Não há o que dizer. Resta-lhe tentar impedir que as investigações cheguem às cabeceiras do rio de lama.

Se chegarem, Lula perderá todos debates. E a eleição.

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