quarta-feira, 12 de julho de 2006

Artigo

O país se associa à vanguarda do atraso
Ricardo Vélez Rodríguez


Sempre tive a sensação de que a esquerda petista não estava à altura para gerir o país. A atitude da “esquerda reacionária” tupiniquim foi, costumeiramente, a de deblaterar contra a globalização. Algo tão burro como votar contra a lei da gravidade.

Pois bem: o companheiro Lula foi eleito e saiu fazendo alianças, orientadas pelas simpatias ideológicas. Os chineses passaram a ser paparicados pelo governo, que ingenuamente acreditou ter um aliado para apoiar o ingresso do Brasil no Conselho de Segurança da ONU e para defender os nossos interesses na Organização Mundial do Comércio. Quando chegou a hora da tomada das decisões, os orientais buscaram a defesa dos seus interesses estratégicos.

Com os “irmãos” latino-americanos o despreparo, em matéria de política externa, é de arrepiar o cabelo. O governo Lula agiu, de novo, movido pelo espírito da velha “afinidade ideológica”. Porque o companheiro Chávez, da Venezuela, deblatera contra os Estados Unidos e pretende fazer uma aliança dos oprimidos contra os opressores, aliança incondicional com ele! Qual foi o resultado? Pífio, a meu modo de ver, pois hoje Lula é refém da estratégia continental de Chávez, que está por trás do surto nacionalista do presidente Morales da Bolívia e que pretende empurrar pela goela abaixo do Brasil o discutível plano energético “bolivariano”.

E o Morales? Destaquemos, em primeiro lugar, o desconforto a que fez passar Lula na reunião de Viena, acusando a Petrobras de meliante internacional e ofendendo a soberania brasileira, sem a menor cerimônia. O presidente “irmão” simplesmente ignorou tudo quanto foi negociado pessoalmente pelo Lula, com ele, na reunião de Puerto Iguazú. Pactos, nesta altura do campeonato, não valem. Vale a retórica ofensiva contra o vizinho “imperialista”.

Nunca se viu, na nossa política externa, tanta falta de brios de parte de um governo, como o petista, que tenta justificar os rompantes telúricos do presidente boliviano, afirmando que “não faria com ele o que os americanos estão fazendo com o Iraque”.

Significa que não possamos confiar nos nossos vizinhos bolivianos? Não.

Significa, simplesmente:

1. que o governo brasileiro deve agir com mais cautela, ouvir os diplomatas de carreira e especialistas do ramo, ao desenhar as linhas mestras da política externa;

2. que a ideologia é, sempre, má conselheira para definir as relações internacionais;

3. que nas relações entre países e entre blocos não há “amigos do peito”, mas Estados com interesses muito concretos.

De todas essas idas e vindas da nossa política externa, poderíamos afirmar que o governo petista está se alinhando com a “globalização do atraso”. Dois grupos se perfilham, claramente, neste momento: um, que defende a integração comercial com os que compram os produtos produzidos nesta parte do mundo, sem preconceber posições pelo perfil ideológico — estão aí o Chile, o Uruguai, a Colômbia, o Peru, o Equador e o México, além dos países centro-americanos. É a globalização aberta ao progresso.

Um outro grupo de países se decidiu pela globalização do atraso, fechando a porta para pactos comerciais com o mundo desenvolvido. Nele estão, atualmente, o Brasil, a Venezuela e a Argentina, liderados, sem sombra de dúvidas, pelo coronel Chávez e pelo seu guru do peito, o velho ditador Fidel Casto. Bela companhia para enfrentarmos as exigências da globalização!

RICARDO VÉLEZ RODRÍGUEZ é professor na Universidade Gama Filho e coordenador do Centro de Pesquisas Estratégicas da Universidade Federal de Juiz de Fora.

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