terça-feira, 25 de julho de 2006

Artigo

ESTOU COM SÍNDROME DE REGINA DUARTE
Paulo G. M. de Moura, cientista político

Quem acompanhou a eleição presidencial passada certamente não esqueceu das cenas da Regina Duarte dizendo que temia a eleição desse governo. Ela tinha razão. Não sei se o medo dela se referia, por exemplo, ao que acaba de acontecer com Reinaldo Azevedo - que ao lado de Diogo Mainardi é um dos mais competentes críticos dessa gente que está no poder, na imprensa brasileira - e cuja mãe teve a casa invadida e revirada, num evidente gesto de terrorismo e tentativa infrutífera de intimidação.

Nem todos são capazes de gestos como esse, mas não é de indivíduos que falamos. É do germe do autoritarismo que existe na cultura política do partido no poder. Foi conhecendo de perto esse lado deles, há vinte anos atrás, que perdi minhas ilusões. Graças a eles descobri que Maquiavel tinha razão na sua leitura sobre a natureza humana nas relações de poder e interesse.

Mas Maquiavel pode ser lido com dois olhares. Há quem leia e pratique Maquiavel a partir de uma interpretação literal, como se ainda vivêssemos na Itália renascentista, numa época em que envenenar adversários políticos era o esporte preferido dos jogadores do poder. Há quem o leia e pratique adaptando seus princípios teóricos à realidade das sociedades democráticas em que a violência bruta não se admite como recurso de disputa de poder, a não ser quando o Estado, em nome da Lei, a usa para preservar a ordem e garantir a liberdade dos cidadãos contra seus transgressores.

A sociedade brasileira conheceu, até agora, apenas uma parte de tudo o que eles são capazes no poder e pelo poder. Seu lado corrupto e corruptor. Para quem conhece o movimento sindical, nada disso é novidade. O destino do poder deles estava escrito em seu passado para quem viu na origem, como eu vi, os sinais embrionários de tudo isso que o Brasil descobriu graças ao “garganta profunda”, Roberto Jefferson.

A compra de um exército de parlamentares mercenários para sustentar a “governabilidade” deles; a distribuição de dinheiro farto para as ONGs amigas; a transformação do Estado em cabide de emprego da companheirada; os lucros exorbitantes dos bancos e o bolsa-esmola, são facetas da mesma moeda, de uma cultura política que compra apoios de quem quer vender, enquanto prepara a terra e semeia as condições para consolidar suas posições de poder.

Quando esse dia chegar, se chegar, os primeiros a serem “dispensados”, serão aqueles que venderam apoio, e sem perceber, estavam criando cascavéis sob a própria cama.

A instrumentalização da democracia e o uso do dinheiro público a serviço de um projeto de poder é apenas uma das faces nefastas que estamos conhecendo. A maneira irresponsável com eles administram o dinheiro público nessa véspera de eleição é uma mostra de que eles são capazes de tudo pelo poder, inclusive quebrar o país, desde que ganhem a eleição.

A outra é uso da violência, tal como é comum se ver em eleições sindicais, em que o controle das ricas máquinas burocráticas degenera, não raras vezes, em enfrentamentos físicos e mortes. A luta armada, os seqüestros, os assaltos a bancos já fizeram parte do instrumental dessa gente para quem, em nome da causa, tudo é aceitável e permitido.

Temo que, perdendo ou ganhando a próxima eleição presidencial, o populismo ao estilo de Hugo Chávez, Evo Morales e Lopez Obrador, será o próximo passo deles. Se perderem por uma diferença muito pequena, temo que eles venham a fazer como o populista mexicano Lopez Obrador, recém derrotado por Calderón: deslegitimar a escolha democrática do povo, dividir e conflagrar o país. Vão quebrar o Brasil para se reelegerem e depois vão dizer que é culpa do boicote do imperialismo internacional.

Vocês já pararam para imaginar o que será do MST, da CUT e da UNE sem a mesada do governo? E essa companheirada toda sem emprego, do que não será capaz?

Com um segundo mandato nas mãos, eles vão interpretar a vitória com um aval para tudo o que praticaram no primeiro governo. Com a vitória nas urnas, eles vão partir para cima dos críticos e adversários. Ontem invadiram a casa da mãe do Reinaldo. Amanhã será a sua.

Tendo sido bem sucedidos em comprar apoio de segmentos importantes da elite política e econômica corruptas, para conquistar o poder a partir das bases frágeis do primeiro mandato, ao receber das urnas um segundo mandato, eles irão interpretar que não precisam mais de seus incômodos “companheiros de viagem”. Virá a fase do monopólio do poder; da hegemonia. Da supressão da democracia e da liberdade.

Estou com síndrome de Regina Duarte.

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