terça-feira, 11 de julho de 2006

Artigo

Manual Lula de pobreza
Clóvis Rossi

O discurso em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou o seu prazer em "fazer política para pobre" é um manual completo do comportamento do político brasileiro.
A regra, anterior a Lula, é a que ele prega: dar "apenas um pouco de pão" para o pobre, que não quer mesmo mais que isso, sempre na aula do professor Lula.
Pobres "não têm dinheiro para ir protestar em Brasília, para fazer passeatas". Ou, na versão mais popular, quem não chora não mama. Há os que nem precisam fazer passeata para ganhar o "bilhão" que o rico quer, "quando encosta na gente", sempre segundo Lula.
Banqueiros, por exemplo, "encostados" nos juros obscenos pagos pelo governo, tiveram lucro de R$ 28,3 bilhões -ou 3,4 vezes mais que tudo o que se deu de "pão" para os pobres na forma de bolsas-esmola.
Nada contra dá-las, nada contra aumentar o número de famílias beneficiadas, tudo contra não pôr a esmola em perspectiva. E a perspectiva é esta: já que o pobre quer apenas "um pouco de pão", é fácil atendê-lo. Não precisa nem entrar em choque com os poderosos, dada a abissal diferença de recursos com que o governo contempla uns e outros.
Não precisa também quebrar a cabeça para fornecer ao pobre os reais instrumentos de inclusão, que começam por um sistema educacional de qualidade e incluem uma lista conhecida.
Assim, é de fato fácil fazer política para pobres. Basta pegar um programa já em andamento, botar mais dinheiro público nele e tocar para a frente. Como diz Lula, "os pobres não dão trabalho". Nem mesmo o de pensar soluções para a pobreza, a desigualdade, a educação de qualidade, a saúde idem, a infra-estrutura, o crescimento econômico etc. etc. etc. É dar a esmola e correr para o abraço.
crossi@uol.com.br

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